Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

CONTRA

Foto: Raul Cordeiro ( olhares.aeiou.pt ) Contra as correntes Contra as ondas Contra os ventos Contra as marés Contra os frios Há mares Que correm para os rios

Da mente

Foto: Raul Cordeiro ( olhares.aeiou.pt ) Diria Quintana Que não devemos  descer os degraus dos sonhos Porque eles Os sonhos Querem ser sonhados É isso que os faz ser sonhos E não apenas acontecimentos Processos e sistemas Saberes ou estratagemas Da mente É isso que faz um sonho Ser da realidade Diferente

Pouco poema

Foto: Raul Cordeiro ( olhares.aieou.pt ) Não me lembro de olhar Sem os olhos com que nasci Mesmo que o que vejo me cegue E pense que morri Afinal vivo e revivo Apenas e só o que vivi Se sou ou não sou não sei Sei só que não sou O que não sou Mas serei sempre O muito que me dão E o pouco que dou

Poemas Curtinhos (II)

Foto: Raul Cordeiro ( olhares.aeiou.pt ) Olha à tua volta e espera Espera que amadureça a poesia E dela se desprenda o verso Em alegre coreografia

Um dia hei-de conseguir a dimensão última do poema

Foto: Raul Cordeiro ( olhares.aeiou.pt ) Um dia hei-de conseguir a dimensão última do poema A forma de representação pessoal Antes da publicação Antes da exposição no meu ecossistema Ganha ainda a diversidade da subjectividade de quem lê Da interpretação mágica Da leitura e diferenciação De dizer sim ou não De ler nestas linhas alguma lógica É diferente o som da alma do poeta Quando outros o lêem em silêncio E de repente na ribalta Alguém o lê em voz alta O poema corporizado Feito vida Eco de uma voz escondida E é dimensão última O mesmo poema em vozes diferentes Dito de uns para outros Ou de outros para uns Em pensamentos e almas Contingentes

O pouco que me resta

Foto: Raul Cordeiro ( olhares.aeiou.pt ) Quero guardar uma prenda Uma gota da chuva Envolta num lenço de renda Para guardar de encomenda Para um dia de festa Pois as gotas da chuva São o pouco que me resta

A minha árvore e a tua

Foto: Raul Cordeiro ( olhares.aeiou.pt ) Não é à toa Nem á luz da Lua Que crescem A minha árvore e a tua É apenas no silêncio do dia Que rumam para fora do seu pedestal Como se merecessem cada uma O espaço do seu quintal São apenas duas árvores A minha e a tua Cada uma a seu modo Esguia e elegante Cada uma a seu modo Importante

Barba grande e lágrimas

De barba grande e face pequena Arranho os dias À procura de uma hora Na esperança de uma dezena É na face que pico E nos olhares que me fico Sou inofensivo Mole e leve nos gestos Suave nos manifestos Poucos protestos E muitos suspiros Silencioso Até quando respiro Não admira que não reparem Que estou aqui De barba grande e face pequena O olhar na chuva A desfrutar a cena E que pique quem se aproxima Num olhar triste numa lástima Como se a chuva Transportasse a minha lágrima

Setembro

Desde que me vejo e me lembro Abrir os olhos ao relento Que as coisas boas e más Me acontecem em Setembro Assim como se o calendário parasse E o coração disparasse Célere em desengano Esperando o fim do ano Para que voltasse de vez A acontecer tudo Outra vez

MIL TONS (letra de música)

Longe do sítio Onde me sento e descanso Perto de um ribeiro manso Onde rebola o meu versejar Eu encontrei Uma pedra de mil tons Essa pedra tem toques raros Uns maus e outros bons Peguei nela devagar Atirei-a ao céu Tão longe e tão alto Como se ele fosse meu E ela voou e riscou No céu como um lápis Um nome nasceu Com as cores do arco-íris É raro termos a sorte De ser cor das cores do céu De ver de perto Um pequeno troféu Erguer-se num mundo incerto E usar o mesmo olhar E usar o mesmo respirar E a mesma pedra de mil tons Para dar cor ao luar E ela voou e riscou No céu como um lápis Um nome nasceu Com as cores do arco-íris

o desfecho (?)

Que desfecho mais malandro Que desfecho mais cruel Sem ar, sem cor Vestido de escafandro Sem sabor, sem mel No meio de um qualquer mar Fiquei sem ar Sem sequer respirar Agora que me lembro Nem penso sequer em ti Mas pergunto a mim mesmo Porque não consigo Deixar de me lembrar Que te esqueci Foto: Raul Cordeiro ( olhares.aeiou.pt )

Caem os meus sonhos de maduros

Se eu fosse agora de uma idade menos idade Fugiria desta cidade Para uma cidade nova Onde não caíssem os sonhos de maduros Nem se escondessem em becos escuros Rasgaria nela o meu silêncio como prova Da força da minha mão E rasgaria ruas e avenidas E desviaria as árvores e os problemas Só para descobrir as medidas Desses sonhos que tenho escondidos A germinar debaixo do chão Foto: Raul Cordeiro ( olhares.aeiou.pt )

Ecossistema

Deixa-me ver e pensar… Como posso explicar em medida quântica O meu amar Em ordem analfabeta É em profundidade e largura De dia e de noite À luz do sol ou ao luar É em tempo e em altura De certeza ou em aventura No suor e na preguiça É amar do meu ecossistema Mais ou menos Como escrever apenas um poema

Se eu voar

Dei-te os melhores anos Dos anos da minha vida Mas tu não és de poucas contas E pedes sempre mais Para mim dar É mesmo dar Sem pensar e sem olhar Se eu voar Vais-me agarrar as asas Se eu voar Voam comigo os sonhos Se eu voar Vais comigo Atirar ao mar As flores para me encontrar Deste-me na palma da mão Os teus sonhos E eu guardei o teu beijo no coração Mas eu não sou de poucas contas E peço-te um chão Um abraço, um beijo E a tua mão Se eu voar Vais-me agarrar as asas Se eu voar Voam comigo os sonhos Se eu voar Vais comigo Atirar ao mar As flores para me encontrar Foto: teorema (Raul Cordeiro)

Não há voz, não há sombra

Estou além, atrás da minha sombra A cantar o bafo do Sol Apraz-me o prazer que me assombra A passo lento de caracol Neste canto débil não há voz Há apenas o contrário O som que ouvimos quando estamos sós Um silêncio estridente, arbitrário Há um Sol que não brilha aqui Nem faz a minha sombra Uma luz que bate em mim e reflui Uma luz que bate em mim e tomba

Embaraço

Há uma criatura que se embaraça Os cabelos na minha poesia Que a torna mais quente que fria Uma figura solar de hálito suave De voz doce e grave Uma figura solar que flutua Longínqua como a lua em pleno dia Há uma figura que se enleia Nas minhas sílabas Que as faz tremer de anomalia Uma figura lunar de voz grave De voz doce e hálito suave Uma figura lunar que se deita Quando o dia ainda espreita Há uma multidão no meu espaço Onde me perco e embaraço E procuro o meu estratagema E é nesse embaraço Que este poema É todo o Sol do espaço

O elogio

Não há terra, nem céu, nem mar Que escutem os meus pés em cativeiro Se o tempo cavou ruínas na minha pele Foi porque ele, o tempo, chegou primeiro Procuro Num espelho, a companhia de um sorriso Sei que é loucura odiar todas as rosas Sei que é loucura perder o juízo Mas que façam o elogio do louco É por agora Apenas o que preciso Quero sentir quem sou Se sou muito ou pouco Se sou assim Antes que o tempo Na sua escavação Descubra os vestígios Que não sou louco Não…

uma dor pequenina, tamanho de mim

Há uma dor que dorme comigo Que sonha comigo os meus sonhos E se baba na minha almofada Serei sincero e bondoso E chamar-lhe-ei apenas A minha dor malfadada

Há coisas

Há dores que não se sentem Apenas doem E sentimentos que não mentem Apenas moem Há olhares que não se vêem Apenas se olham E mãos que não tocam Apenas acenam Há coisas que não mudam E assim ficam sempre Apenas coisas