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Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2008

UM ÚLTIMO PEDIDO

P reciso do teu desenho, da tua projecção Do teu perfil, das horas dos teus dias Preciso do teu cheiro a chá de menta Das rosas dos teus segundos da tua fantasia Preciso que pintes os olhos de magenta A primeira cor do universo Que pintes dias, horas e segundos E te deixes levar na poesia deste verso Preciso que passes para te perder Ou apenas para ter saudades tuas Preciso que estejas ausente para te ver Preciso que chegues para te esquecer Foto: On the Becak -  Wawan Setiawan  ( Oneexposure )

O FIM DE UM ANO

O fim de um ano É assim uma coisa esquisita Porque na verdade não acaba nada E continua tudo outra vez e outra vez Muda o dia e a semana Justifica um trabalho sem fim Um espaço fútil Um amor inútil Uma poesia não tem anos Apenas passa por eles Não quer nada de presente Mas sim de futuro Escolhe um fruto maduro Por isso é mais difícil escolher um ano Do que uma poesia Porque… Um ano acaba e outro começa Poeticamente no outro dia Foto: Fogo de Artificio - Sara Pinheiro ( olhares.aeiou.pt )

O TEU BANCO DE JARDIM

Estará por aí à mão o banco de jardim Onde está? Que não aparece nas imagens Onde está quando preciso? Descansar das minhas viagens Podes ao menos mostrar-me  A sombra que faz a árvore Ou o rio dessas paisagens Há pedras no caminho? Há espinhos nas roseiras? Magoarei os pés se caminhar sózinho? Permite esse quintal brincadeiras? Sabes disso ou apenas esperas descanso? E que o sentido oculto das coisas Te dê esse sono manso? Mudas as paredes e os quadros? Mudas apenas o corpo? Deixas ficar os braços  e os ouvidos Ansiosos por um piropo? Muda os quadros e as paredes Muda o corpo e a alma Muda o jardim e a roseira Muda o tudo e o nada Esse capim e esse aroma Mas deixa o banco e a floreira Deixa a árvore e a sombra

A MINHA PRENDA DE NATAL - Márcio Almeida Júnior

Vale a pena ler Raul Cordeiro e a Vida das Palavras Tenho feito prazerosas viagens aos mares da blogosfera portuguesa. Velejando em praias repletas de diários, coleções de textos próprios e citações, avistei o farol que Raul Alberto Cordeiro construiu para avisar aos navegantes virtuais que a terra de Alberto Caeiro continua em efervescência literária. E lá, no Alentejo, está Raul, um desses tipos dos quais se pode dizer, sem conhecê-lo, que é uma figura ímpar. No seu "A vida das Palavras" estão servidas iguarias para paladares exigentes. Os pratos que oferece vão de poemas a artigos, passando por reflexões existenciais e citações. Dessa mesa farta, recolhi o trecho abaixo, preparado com uma leveza de tempero que lembra Fernando Pessoa (não o dos heterônimos, mas ele próprio): Será que o meu amor é como um vazio? Onde pousam pássaros de todas as cores Mas só ficam os que fazem ninho É certo que... De vez em quando provocam dores Com suas bicadas devagarinho? (Corvos) Em tempo

UMA BELA PRENDA DE NATAL

Do outro lado do Atlântico, onde gritámos junto ao Ipiranga, chegou a mais inusitada e bela prenda de Natal - um elogio, tamanho do mundo (pelo menos do meu) à Vida das Palavras. Os leitores deste Blog são já quase maioritariamente falantes de português de samba, ritmado na cadência e belo nas palavras. Aos meus amigos e amigas do português do samba do Brasil, do português creoulo de Angola e ouros cantos do Mundo a minha prenda de Natal são todos vós. No Blog VIVER E CONTAR, Márcio Almeida Júnior acabou por dar a este Blog a melhor prenda de Natal - a satisfação dos seus leitores. Fez um elogio tamanho do mundo, não digo exagerado porque também sou algo vaidoso com o que faço. Façam o favor de ler

ESTÁ AÍ O NATAL...

CORVOS

Será que o meu amor é como um vazio? Onde pousam pássaros de todas as cores Mas só ficam os que fazem ninho É certo que... De vez em quando provocam dores Com suas bicadas devagarinho? Foto: O corvo - Sérgio Marques ( olhares.aeiou.pt )

ODE À ARVORE DE NATAL (o poema de Natal da minha árvore de Natal)

N ão se sabia sequer que era um poema Aquele monte de coisas que cresceram no meu quintal Cada verso, cada frase, cada ramo Cada sombra da copa esperava por um Natal Suspensa das vontades do Homem Em adorá-la ao menos uma vez por ano E adubá-la com estrelas, prendinhas e palavras Surgiam luzes e imunes veios ao desengano Não sabia sequer que o Natal era um poema Que havia por ano uma vez só Nem sabia de que poema se tratava Nem o sabia de cor Podia ser trágico ou de amor Mas cresciam nela ramos novos Ficam bonitos os velhos E estrelas e bolas Para as crianças se verem ao espelho E era nesses dias que era árvore poema Árvore de Natal De crianças e homens De um Natal por inventar Foto: Arvore de Natal - Hugo Azevedo ( olhares.aeiou.pt )

UM SONHO NÃO SE SONHA TODO DE UMA VEZ

Sei que há dias bons e maus Dias em que o quotidiano é miragem Dias de praias e dias de vaus Dias de estar e de passagem Sei que não resolvo nada chorando Os dias e palpando os degraus Sei que vou tacteando Sei que a vista pouco alcança Sei que não me apetece Entrar agora nessa dança Sei que não esgotei ainda A minha dose de felicidade Que estreito e murado É ainda o subúrbio da minha cidade Sei que um sonho não se sonha todo de uma vez E quando uma noite acaba e começa Volta o sonho outra vez Sei que sou o que sou Não encontro outro jeito Ainda que o sonho do sonho Possa pecar por defeito Foto: refúgio do mundo - Nuno Ramos ( olhares.aeiou.pt )

AUTOBIOGRÁFICO II

Que ninguém me venda as suas regras  Que não visto a roupa de outros Que os limites sejam os meus Ainda que as barreiras sejam negras Não me vejam cantar ao ouvido Melodias de passarinho doído Que sou livre no pensamento Mas veloz no sentido Não me venham falar de amor Quando na seara onde se colhe Nem nasce uma flor Nem quero pensar na dúvida Quero o milímetro cumprido E nem o destino me distrai De um destino bem medido     Foto: sonho de criança... - J. Manuel Andrade (Osores) ( olhares.aeiou.pt )

BRINCADEIRAS

E ra mais que uma mãe na praia Cada qual com seu filho E quando a onda voltava Voltava também o sarilho Era já mais que uma quando a onda voltou E no reboliço do mar Ficam as mães a pedir Para a onda não voltar Pedem os filhos o contrário Volta onda, volta do mar Volta depressa, a correr Para podermos brincar Enrola-te na areia e brinca Deixa-me tocar-te, não fujas Minha mãe fica contente Se foges e não me sujas Sai de mansinho antes que ela te veja Volta para o mar e vem outra vez E pede se ele te deixar Para voltar, talvez! Foto: Morador da praia do Gunga - Alagoas -Mardém Nogueira ( olhares.aeiou.pt )

AUTOBIOGRÁFICO I

S empre fui O maior dos meus próprios medos Confidente de mim próprio Ouvinte dos meus segredos Sempre fui O meu espelho A areia do meu vidro Ou o branco do vermelho Sempre fui o meu rio A minha carta de marear A minha praia O meu próprio navegar Sempre fui A minha imagem e a beleza A alegria e a tristeza O rir e o chorar O gritar e calar Sempre fui A minha criança e adulto O meu elogio ou insulto Sempre fui O pó e a estrada A minha noite e a alvorada Sempre fui e pouco mudo Sou o meu nada E o meu tudo Foto: Espelho meu - luis azoia ( olhares.aeiou.pt )

NENHUMA DAS MINHAS LÁGRIMAS SOU EU

F icam as minhas lágrimas pelo litoral Do teu mar Mas sabes? Nenhuma das tuas lágrimas sou eu E antes um mar de choro Que um punho de riste teu Ficam as minhas carícias pela tua terra Pelos campos do teu corpo Nenhuma das minhas lágrimas sou eu E antes um campo por lavrar Que um punho em riste meu Foto: Untitled - Michal Giedrojc ( photo.net )

OITAVO DIA

Tivesse descansado ao oitavo dia E seria seca a chuva E molhado o deserto O Sol a nuvem E longe o perto Tivesse apenas mais um dedo apontado ao mundo E seria estreito o largo E baixo o fundo Tivesse apenas mais um pequeno sorriso Seria frio o calor E louco o juízo Tivesse um esgar de admiração Seria meu o teu E teu o meu coração Foto: CHICAGO - Paulo Madeira - www.paulomadeira.net ( olhares.aeiou.pt )

BAGAGEM DE PENSAR

Mesmo que eu caminhe de olhos deslumbrados Ou que por momentos os tenha fechados Quem será o Deus distraído Que me vigia os lados? Onde estiver estará o vento? Veloz bagageiro do pensamento Gosto de sal e mar Braços estendidos Olhar no templo Onde eu viver há-de haver um fruto proibido Um segredo sem sentido Um silêncio Um gemido Onde eu viver há-de haver vontade De deixar vir com o vento A verdade Foto: Out! - grENDel ( olhares.aeiou.pt )

FOLHA NUA

B ranco e negro Espinhos e rosas Poucas palavras Para muitas prosas Dia e noite Sol e Lua Poucas letras Numa folha nua Folha e livro Prosa ou poesia Escrita de noite À luz do dia Rir ou chorar Brincar a sério Poema de vida  Verdade ou mistério  Céu ou terra  Curta ou comprida  Seca ou molhada  Sem metro ou medid a Foto: The rising - grENDel ( olhares.aeiou.p t )