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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2009

a filosofia de um poema

Um poema é assim… Algo que não se explica Que brota dos poros Que vive noite e dia Que bebe à tarde água Na fonte da Filosofia Um exercício de dissidência Do material da consciência Um tambor que capta e não emite Os sons da inteligência Um poema não se lê à chegada Mas no destino É uma arte de ser Uma pintura de pincel fino Foto: Quando não te posso contemplar, contemplo os teus - J. PEDRO MARTINS ( olhares.aeiou.pt )

era breve a noite e veloz o vento

Era já noite e sem que o mar ou o vento apagasse o luar Ele sentia um aperto no peito Cada vez que o corpo ensaiava danças de respirar Só de pensar o que ela pensava Ou de pensar o que ele pensava que ela pensava Que confusão de pensar De cada vez que ele pensava que ela pensava Cansava a lua e as estrelas E ficava a pensar se ela se cansava De olhar as estrelas sem vê-las Era breve a noite e veloz o vento

A MINHA PEQUENA POESIA (Dia Mundial da Poesia, 2009)

É caldo o ar que sinto Não minto Sou apenas um defeito Uma gota no teu conceito É poesia o que vendo E um verso o que estou lendo É defeito dos olhos Ver aqui um poeta Se nem uma lança Pode fazer mais que uma seta São só palavras com vida Mas vida de quem as lê É erro ver aqui O que nem o poeta vê É de todos este canto do meu caderno Rabiscos e palavras Palavras e riscos Um delírio são eterno Uma poesia pequena De um poeta pequeno Cuidador de palavras Ressuscitador De um poema sereno Foto: poesia no muro - Lucia Caribé ( olhares.aeiou.pt )

Espantalho das palavras

Era assim como se na folha alva Morasse um espantalho das palavras E na folha seguinte outro espantalho E de folha para folha De espantalho para espantalho Voassem os pardais perdidos na mata E as palavras perdidas na data Era assim uma história sem Homem de lata Ou leão triste ou companheiro E brigassem os pardais e as palavras Em que folha me deito Ou que espantalho respeito Foto: com o espantalho - Telmo Simões ( olhares.aeiou.p t )

CÓDIGO DE POETA

Digo eu... Há sangue no que escrevo Lágrimas no que bebo Cio no que sinto Suor no que concebo Foto: Poeta - filipe santos ( olhares.aeiou.pt )

NESSE ESPAÇO DE RIO ONDE NADA

espacialmente oco o interior da furtiva luz desmaiada nesse espaço onde doce é a doçura nesse espaço de rio onde nada da furtiva luz desmaiada a loucura rumo à foz da coisa é de carne o meu sustento é de tábua rasa do navio, a loisa da furtiva luz desmaiada é espacial e especialmente oco o interior de peixes e algas floridas é escuro de breu o fundo da furtiva luz desmaiada é doce é salgado esse porto de mar vagabundo

A MÚSICA QUE SOBRA

Nem sei se entre a música que sobra Fica alguma porta aberta Ou se na melodia encoberta Se rasga a folha do poema ou se dobra Se a poesia me acena apenas de um vão de escada Me mata sorrateira no gume da espada Ou se espreita qual donzela quando me vou Atrás da cortina de vidro da janela Já não sei se foi ela que me encontrou Ou se a descobri nua Não sei se foi porque ela chorou Quando passou à minha rua Sei que foi delicado o meu gesto Ajudar a poesia a ser maior Só me pertence o braço infesto De pretensioso conquistador Nada mais que um gesto indolor Nada mais que um beijo funesto Foto: Reinventing the Cello II - Alexander Kharlamov ( olhares.aeiou.pt )

QUE SÃO DOCES OS BRINQUEDOS

Um pouco, um pouquinho só acima da medida do silêncio Roçam os cotovelos da noite para abraçar a matina Um pouco, um pouquinho só abaixo da medida do silêncio Despe-se o dia dessa capa escura, fina É de brisa do mar o teu pouco vestido Um pouco, um pouquinho só abaixo da tua loucura Um pouco, um pouquinho só por trás dos meus olhos E de algodão fino e cambraia quem te abraça a cintura Será um pouco doce, um pouquinho só, a água do mar Depois de nela navegar a tua doçura Será miragem que navega ao largo um brinquedo só Um pouco, um pouquinho, só È só um pouco, um pouquinho só acima do som do silêncio Que são doces os brinquedos E para brincar, os doces Um pouco, um pouquinho só de segredos Um pouco, um pouquinho só abaixo da medida dos medo s Foto: Meninos do rio - José Luis Almeida Albuquerque ( olhares.aeiou.pt )

OLHO AZUL

No dia em que for grande Hei-de publicar um livro Com um olho azul na capa e na contracapa Terá letras amarelas E linhas verdes paralelas Será a olho nú um livro diferente Transparente Será feito à mão Escrito e desenhado no chão Terá na lombada bordada As asas de uma gaivota E as garras de um leão Será transparente, amarelo, verde Um livro canção Terá páginas de titânio Eternas ao tempo Será quadriculado Espelho dos impulsos Do que está dentro do crânio Será de todas as cores que o leitor quiser Mas será mesmo a sério Um livro para ter e ler Ou para esquecer e vender Mas será um livro... Foto: Sob a luz azul - Ramon de Assis ( olhares.aeiou.pt )

CANTA SERENO O ÓPIO EM MEUS OLHOS

Canta sereno o ópio em meus olhos Quando para além de tudo alcanço os teus Delira e alucina o meu pessimismo Só com a dor de pensar Quando os teus olhos encontrarem os meus Sinto em excesso a angústia de ser E a ansiedade de não poder Odeio-me se não o fizer Respirar o meu ar que tu Deixar entrar em corpo nu O mal que esse amor me fizer Queria às vezes ter um sabor salgado Dissolver-me na água do mar E esperar deitado na praia Gretado de sede e desejo E esperar o doce no molhado do teu beijo Ao mesmo tempo ser só no mundo Ter tempo para respirar bem fundo E resolver esta batalha entre a vida e a agonia A tristeza e a folia A realidade e a poesia Cansa só de pensar Que nunca te vou olhar ou falar Que não lês o que escrevia Emerge o ópio em meus olhos Odeio-me se não o fizer Respirar o meu ar que tu Deixar entrar em corpo nu O mal que esse amor me fizer Foto. "Puff" - José d' Almeida & Maria Flores ( olhares.aeiou.pt )