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A mostrar mensagens de junho, 2008

SILÊNCIO, NASCEU UM POEMA

Há silêncio, excepto no poema Pairam rimas na minha mente Posso gritar a toda a gente Mas começa novamente Posso saltar das palavras para as linhas Ou das linhas para as ideias E durante algum tempo monto a linha Como monto a minha safra Como calço as minhas meias E nasce um poema que quebra a cor Colorida da palavra Bits de som e não muita forma E repentinamente estou em lágrimas Por ter quebrado a norma Tenho de olhar para longe e esperar Finalmente há silêncio Silêncio voluptuoso Excepto no poema vagaroso Foto: Silêncio em S. Jacinto - Paulo Coelho ( olhares.aeiou.pt )

HISTÓRIA DO AVESSO (DE UM RIO DE ÁGUA VAZIO)

Para aqui sentado na paragem Olhos à chuva deles mesmos Olhos nas vigias das ruas e vielas Inventando a miragem dos teus Reflectida na janela dos meus Tempestade à espreita na cidade Cabeças no ar, olhos no chão Uma rua gasta da idade Uma pedra que salta do caminho Uma pedra na rua da cidade E alguém que caminha sozinho Lágrimas que correm para o rio Um rio de água vazio Um barco em seco sem vento Um grito feito lamento Um homem de água sedento E um rio de água vazio Uma mulher a tremer de frio E uma capa a voar ao vento Um homem que olha o advento De um rio de água vazio Uma criança que choras os pais Pais sem filhos nem rio O barco sem porto nem cais E um rio de água vazio Um pintor que pinta sem quadro Um quadro sem pintor ao vento Um pintor que pinta ao frio Um rio da água vazio Um amor que esvoaça o equador das ideias O sangue que salta das artérias Um corpo que encolhe com o frio Num rio de água vazio Foto: Não me negues o teu amor - Raul Cordeiro ( olhares.aeiou.pt )

POEMA SIMPLES AO VINHO - 2º Lugar no 11º Concurso Literário Luso-Poemas - O Vinho

Este é… Um poema que é vinho dum vinho que foi mosto Um vinho que é casta num cálice de vidro Um vidro que carrega o néctar do rosto Sangue e cor da vida - o simples sentido Esta é… Uma mão que acompanha teu corpo afagado O teu gosto simples na boca guardado O teu espírito dos deuses sempre presente Quando deslizas e o meu corpo te sente Eu… Fico embebido na tua bebida de prazer Branco, sangue, verde ou maduro da vida És vinho, água benta de vida e prazer És simplesmente vinho de uma vida por beber Foto: Feeling - Elisabete Homem ( olhares.aeiou.pt )

SOLUÇÃO MÁGICA

Há um suspiro de palavras drenadas da amargura da tua boca Uma espécie de magia soletrada no linho Uma criação de palavras simples Uma magia que mostra que um amor não pode curar-se assim Uma varinha de condão que perturba a pacatez do ninho Seria bom deitarmo-nos a adivinhar A quanta magia pode sobreviver o mundo E quanto a magia pode tocar tão fundo Seria muito mau destruir o sonho de uma menina Fazendo desaparecer a praia e a areia Fazer desaparecer da rua a esquina Fazer um ar duro e sério E estragar o mistério Seria muito mau Deixar voar a pomba do chapéu do mágico Gritar ou esperar acontecer Virar a carta certa no momento errado Ou esperar pela magia desesperado Ou seria mau pensar Que partir a varinha de condão Podia ser mágica solução Foto: Números amigos - mico ( olhares.aeiou.pt )

VÃS PALAVRAS, MÁ FORTUNA

Dispo-me quando escrevo As palavras que são minha roupa de disfarce Verdade feita poema Na linha ténue do ecossistema Dispo-me porque sei que transpiro Porque sei que sonho Visto-me porque sei que te inspiro No teu poema medronho Neste equilíbrio de corpo e mente nus Faço a correr a tua praia de encantos Visto e dispo a roupagem na duna Oiço e leio o que escrevo Vãs palavras, má fortuna Foto: Arrufos Silenciosos!!!! - Daniel Oliveira ( olhares.aeiou.pt )

TALVEZ

Talvez não… Talvez nunca tenha estado sozinho E haja nalgum lugar um coração que sangra como o meu Uma alma que sente o mesmo que eu Olhos como os meus Que vertem água de mansinho Talvez sim… Talvez haja por aí alguém como eu Com o mesmo desejo de caminhar Com o passo mais largo que o mundo Que queira gritar as palavras que não são ouvidas Que rasgue o silêncio profundo Talvez… Seja só uma passagem de margem Uma solidão que não quer estar sozinha Que queira gritar ao vento Os gritos ensurdecidos do eco Que quebre as conchas do mar E goze o sorriso ao caminhar Foto: Quorum Ballet*Daniel Cardoso - Nuno Abreu ( olhares.aeiou.pt )

ADMIRAÇÃO

Admiro A elasticidade do mundo O belo e o feio O bem e o mal O superficial e o profundo Resiste a almofada às noites mal dormidas Volta a espuma sempre à mesma forma As loucuras, os delírios E a norma A tenacidade sinuosa Das plantas que procuram o Sol A sua inteligência cega mas verdadeira Admiro A terra redonda Vaidosa O mar e o céu O que é teu e meu A calma e a onda A onda e a vaga Admiro A saúde e a praga O mais e o menos A soma do todo nas partes As estrelas que flamejam Os astros e brilham E tudo mais Que os meus olhos não vejam Foto: *Imensamente Azul* - *Rod* Rodrigo Silva ( olhares.aeiou.pt )

TRANSPARÊNCIAS

Ir ou ficar Na oscilação dos dias ímpares Amar a minha própria transparência Saber as tardes a circular nas baías dos mares Rocha de calma que o mundo silencia Tudo é visível e alusivo Tudo está perto e não pode ser tocado Horizonte vidrado, margem vazia Tempo pulsando nas minhas repetições de tempos A luz que reflecte na parede indiferente E o futuro sagaz Manhoso e mentiroso Que na verdade mente

MEU BARCO, TEU CORPO

Ainda não é noite cerrada E já as tuas velas arribam ao largo E trazem no sal que carregam Um gosto de mar e sol amargo Teu porto é na minha baía Tua praia no meu corpo Estudam as ondas a tua anatomia Mas escondem e ensinam-me pouco Foto: body painting - Arlinda Mestre ( olhares.aeiou.pt )

RIO DE AROMAS E SENTIDOS

Sejam as mais íntimas memórias Surdas e mudas Se a memória for cega E a tua presença táctil marcar a minha mão Como o teu nome que gravo no chão Sejam a tua cintura o meu apoio E a tua pele incrustada na minha Seja o gesto redondo do teu corpo O descanso da minha retina E a água da minha sede E o teu perfume Um rio colorido de aromas Que escorrem sobre vales e montanhas Sejas o que a minha memória deseja E o resto que eu ouça e veja Foto: ADRIANA... - Arlinda Mestre ( olhares.aeiou.pt )

ENIGMAS

É uma cobra ferida que desfralda o capuz Um ar de deserto onde ressoam as chamadas É sangue de cavalo andaluz Raiva de leão batido pelo coração É nuvem que se estende força do dilúvio Força de vento alazão Da canção dentro do búzio É um relâmpago que racha o meu peito A minha alma que perde o jeito É o amor que trai a amizade A mentira que trai a verdade É o tempo que causa o efeito Ou a causa que trai o conceito É o espaço que amaina o corpo A sombra que sabe a pouco É o mistério de ser são Num mundo quase louco É o pensamento que se faz ódio A vitória no cimo do pódio É a noite que se faz dia Numa bela e simples poesia Foto: Praire - Hugo Macedo ( olhares.aeiou.pt )

VESTI-ME DE TI

Todas as manhãs Esperas por mim numa cadeira á beira da cama Esperas que te dê a tua forma e vaidade A minha esperança, o meu corpo, a minha alma Ou apenas a verdade? Saio da água e estico os braços e pernas Visto a tua pele na minha E com tua fidelidade incansável De saíres de formas eternas Começo o dia Estabeleço a poesia Examino janelas Homens, mulheres, Feitos e querelas E mordido pelos teus fios Pregados nos meus ossos Tomas a minha forma e meus vícios Vazio, pela noite de ofícios Escuridade, sono, destroços Povoas com as tuas fantasias As tuas asas e o meu dono Pergunto se um dia Uma bala inimiga Trespasse nossas peles Se o meu sangue fica em ti Ou apenas o repeles Foto: Deixo ao vosso critério - Gonçalo ( olhares.aeiou.pt )

NEM FRUTOS NEM FLORES

É uma árvore estranha a que vive junto da minha janela Tombada sobre o horizonte Alta, de porte Fugia da terra para o céu Ramos selvagens, gratuitos Alguns frutos, fortuitos É uma árvore estranha a que vive junto da minha janela Atroz e arrisca Nem os pássaros pousam nela Verde e castanha E de copa tamanha É uma árvore estranha a que vive junto da minha janela Nem frutos nem flores Nem flores nem folhas Nem preto nem branco Nem cores Apenas alguns ramos felizes Que em formas de abstracção São seus troncos e raízes É uma árvore estranha a que vive junto da minha janela Mas que fazem meus olhos Repousar suavemente nela Foto: 03 - Hipnotylical - beowulf ( olhares.aeiou.pt )

O CHÃO, APENAS

Seria eu apenas uma gota de chuva Que te escolhe para molhar E tu o chão de terra Que escolho para morar Seria eu o raio de Sol Que te escolhe para aquecer E tu apenas a sombra Onde descanso ao entardecer Seria eu a noite e o dia E tu as minhas horas Seria eu o norte e o sul E tu a minha diáspora Se fosse tudo verdade Seria eu a tua cidade Não serias apenas o sonho Dos poemas que componho Se... Foto: Bianca - KarolSiwek ( olhares.aeiou.pt )

FRAGMENTOS

Na capital do justo e equilibrado Entre os seus distúrbios e regras Foi o meu olhar pretendente Foram os meus horizontes profundos Foi o meu coração abstinente E múltipla impulsão da minha carne Senti-me onda e balanço Entre a humanidade nebulosa Onde o meu átomo rastejou Fui de mim o próprio falhanço Vi um milhão de movimentos, mas apenas uma lei Vivi na cidade os meus olhos Um fermento turbulento, intensamente feira E nessa cidade de vida aos molhos Foi esse fogo que ateei Que marcou a minha fronteira Foto: ... - Avelino Oliveira ( olhares.aeiou.pt )

O POEMA DO POETA

O poeta tinha uma caneta, uma folha e um livro O poeta tinha uma folha do livro O poeta tinha uma caneta que escrevia O poeta tinha um livro que só lia de dia O poeta tinha uma caneta que escrevia numa folha Que era do livro que só lia de dia E o livro tinha uma folha que só se lia Quando o poeta queria Era a folha de um livro escrito por uma caneta Que quando era de noite simplesmente não escrevia E nas sintaxes que compunha com a caneta Nas suas mãos o poeta o seu livro sentia E nas linhas com que a folha ficava Lia-se o texto que o poeta ensaiava O poeta tinha uma caneta, uma folha e um livro O poeta tinha uma folha do livro E eram as linhas das folhas do livro Que faziam o poeta vivo O poeta tinha uma caneta que escrevia Um livro que o poeta só escrevia de dia Foto: Charlie Chaplin... - Paulo Penicheiro ( olhares.aeiou.pt )