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furtivo

ficaria feliz se estivesses a sorrir quando eu morresse se eu me pudesse vingar assim de toda a tristeza em mim e vomitar a vida de uma congestão avulsa e se estes versos fossem lápide de uma vida de um lema a que alguns chamam poema seria vingativo mas um pouco diria furtivo

Do outro lado da infelicidade

Quando te olhei mais que um segundo ceguei Fiquei colado ao chão Já não viste mas paralisei Uma estátua Quieto De olhos na Lua Quando quase te toquei com a minha mão delirei Pensei ver-te retribuir Pura ilusão da tua mão Puro delírio do meu sentir Ver-te chegar Para te abraçar Se eu te olhar Na sombra da minha árvore Ao Sol do meu olhar Num barco a navegar Ou num delírio ao luar Vou-me rir Rir é um chorar Diferente Quando te recolhi no meu colo Foste o cimento da minha casa pequena O meu mundo A minha montanha Foste da minha janela A cena Chegaremos junto a esse porto de abrigo Do outro lado da infelicidade Seremos nós Eu e tu A verdade Se eu te olhar Na sombra da minha árvore Ao Sol do meu olhar Num barco a navegar Ou num delírio ao luar Vou-me rir de contente Rir é um chorar Diferente Vou-me rir de contente Rir é um chorar Diferente

De cheiros amarelos de giestas (Portalegre)

Foto: João Carvalho É esta No seu passo alegre A cidade do meu andar Que se escreve Deliciosa Diante do meu olhar De cheiros amarelos De giestas Nas abas do teu vestido Das festas Num voo colorido É fresca a tua boca De madrugada É de sol A alvorada

horário de jogo (letra de música)

O lume que acendes É da cor dos teus olhos Vou apagá-lo com um beijo Depois De escrever versos simpáticos Puxo os galões de catedrático E vou estudar-te… Vou ler … As tuas frases ao contrário Decifrar o teu horário E sonhar… Vou ver … O brilho  Dos teus olhos nos meus E os meus beijos chocarem com os teus O lume que apago É quase da cor do fogo Escolhe tu as regras  Deste jogo Já não sei o que sentir Nem escrever nem dizer Escrevo versos no desejo De apagar os teus com um beijo Vou ler … As tuas frases ao contrário Decifrar o teu horário E sonhar… Vou ver … O brilho  Dos teus olhos nos meus E os meus beijos chocarem com os teus

um resumo

- O que é um resumo? - Um resumo é assim como se extraíssemos da vida o sumo,  um vestido singelo da verdade nua no meio do fumo exibindo a sua vaidade formosa mensageira da verdade - Um resumo é isso? - Sim, é isso… a apresentação concisa pequena e precisa de um facto,  de um momento - Uma pessoa é um facto? - Se ocorre na natureza, sim. - Pode uma pessoa ser,  num momento, um resumo? - Sim, se ocorrer num poema  nua depois do fumo

Fado do entendimento

Foto: Raul Cordeiro Já fiz todas as forças e reforças do mundo E eu não me entendo Quanto mais olho para o espelho Mais se vai o mundo enchendo Quanto mais água limpa dos meus olhos corre Menos eu me entendo e a alegria morre Gastei o tempo a entender o mundo Menos me entendi a mim E ouvi do mundo um não  Rotundo Já fiz de tudo para me ouvir e entender Menos o que fiz para isso E o que não fiz para isso nem quero fazer Foi morrer

sempre fico parvo

sempre fico parvo quando alguém me diz que não sabe o que realmente sabe e o que na sua sabedoria cabe desculpas sem motivo ignorâncias sem aviso prévio sabemos sempre mais do que que outros sabem que sabemos e sempre menos do que outros pensam que sabemos ou pura e simplesmente não sabemos

o umbigo

Diria Almada que sermos coletivos é sermos mais Que o mundo quer ajuda Da massa humana imortal Que prefere  Curar o seu próprio mal A que outros o venham curar Mas poupo-vos ao meu amor pelo mundo O amor faz-se se houver tempo Por isso se não tiverem tempo Não contem comigo Nem pensem no mundo (ele agradece) Olhem antes para o vosso umbigo

A fuga do beijo (Dia Mundial do Beijo) - Republicação

Pus um beijo sossegado Deitado Em cima da mesa de entrada Não há nada Que um beijo não abra Não há nada Que num beijo não caiba Ninguém lhe tocou Ninguém o viu à entrada De tão quietinho De uma boca tão calada Um beijo é apenas um beijo Quietinho Sossegado e poupado A uma boca Que não quer ser beijada Não há nada Que um beijo não abra Não há nada Que num beijo não caiba

exercício diário

acordei hoje  para mais um exercício diário de vida um banho de um mundo tamanho que me julga a cada instante e se mantém inexorável da razão distante Foto: João Carvalho

bom português

Nenhuma das palavras da língua que falas e balbucias É mais forte que o que sinto e canto És tu essa língua de uma língua península Sílaba europeia de fim de frase Que fazes anos sempre que a separação nos alimenta Que cantas uma língua de menta E sangue Que alimentas mas e porquês Para ser complexa A língua português

escrevinhar

anoto uma a uma no ar que respiro as formas que tornam exata a minha sombra mesmo quando o sol erra a medida respeito o que a vida deposita na minha conta à ordem embora nada lhe peça não se pede nada à vida apenas sorrio perante a tua chuva a chuva salgada do teu olhar e vejo e confirmo que não há na minha sombra medida que meça a caligrafia do poema e sem medida, um poema é apenas uma peça um escrevinhar

É verde e sangue

É verde e sangue A folha onde cai este poema A tinta preta das letras feitas versos Um texto pequeno, o meu esquema A minha vida vista do inverso É verde e sangue da cor do sangue da minha dor Da cor da coragem que não tenho Da cor de uma vida curta, sem valor Há uma sombra Que me segue veloz na noite escura Que se ri de mim e me esconjura E me cansa a cada passo da avenida Há uma esperança Uma luz de cor que nasce nos teus olhos Um verso branco escrito No teus folhos Um verso lindo, sentido Da cor do teu vestido É verde e sangue A calma onde cai esta canção O canto que canto alto Bem alto com meu rosto em tua mão É verde e sangue A calma onde cai esta canção

Há coisas inúteis (Republicação)

As coisas inúteis Nascem em lugar nenhum Simplesmente não existem Que seja feita a vontade De pensamento algum Que sejam misturados os ingredientes Da verdade E reservados os dentes Que mordem os calcanhares das mentiras E se vozes de cão Esforçadas Irrompem em iras Isso é apenas e só O tempo a mirrar A ensurdecer a minha voz A cegar Os meus olhos Fechados Nos seus nós Há coisas mesmo inúteis

A Vida das Palavras - Escritos e Escritores 2011