Avançar para o conteúdo principal

ESPONTANEAMENTE


Espontaneamente
És o braço amigo que se suspende à toa por cima do meu ombro
A colcha rica da erva onde descanso
Pensamentos de amor, suco de amor, odor de amor, produção de amor
És a seiva trepadeira sobre o meu escombro, remanso
Braços e mãos de amor, lábios de amor, polegar fálico de amor, peitos de amor
És a terra do amor puro, vida que só é vida depois da dor
És a manhã suave, húmida e encharcada
És o cheiro da madeira das primeiras chuvas da madrugada
És o braço que se inclina através e abaixo da minha cintura
O cheiro de maçãs e latido de vidoeiro e sabor de uvas
A folha viva que gira o seu giro em espiral e cai
O elixir do líquido límpido dentro do homem jovem sem cura
A corrosão tão pensativa e tão dolorosa
O tormento, a maré irritável que não será paz jamais
Do homem jovem que acorda profundamente à noite
A mão quente que busca e reprime o que o domina
A noite amorosa mística, as visões, os suores, o pulso
Embebes sobre mim o mar, como estou disposto e nu
A incontinência de verduras, pássaros e animais avulso
A ganância que me come dia e noite e com fome não rói
O alívio sadio, o repouso e o conteúdo
Espontaneamente, sou eu nada e tu tudo


Foto: O Violoncelo - Rui Bento Alves (olhares.aeiou.pt)

Comentários

Mensagens populares deste blogue

AUREA- I Didn't Mean It (Lyrics)

VERSO E REVERSO

Se eu fosse um verso Seria com certeza um verso do inverso Escrito de trás prá frente Ou visto á lupa e á lente Se eu fosse um verso Teria que ter uma poesia para nadar Uma frase para rimar Um texto, um mar pra navegar Se eu fosse um verso Podia rimar com várias poesias Uma nova todos os dias Se eu fosse um verso Só, apenas, um simples verso Monossilábico, mesmo do inverso Seria a só a palavra Que a poesia do verso Quisesse Que fosse Se eu fosse um verso seria um pássaro Que faz das frases ramos E das poesias enganos Se eu fosse um verso Seria eu verso Mesmo do inverso Seria meu E nenhuma poesia reclamaria É meu Mas era se fosse um verso Como não sou verso nem do inverso Sou apenas o inverso do verso Sou o reverso Foto: Rodinhas1. - Ed Ferreira ( olhares.aeiou.pt )

ESSA ESTANTE DE ENCANTOS

Entre ir e vir Da minha estante de encantos Não sei… Talvez quisesse despir-te a alma Duplicar-te com os olhos Olhar-te deliciado com o pensamento Beber esse néctar ao relento Talvez pensasse no teu perfume Colhido no alvor da manhã Talvez fumegasse em mim um castiçal de lume E me apetecesse subir ao cume E gritar baixinho… Olho-te a todo o instante Vejo-te bailarina nos meus dedos Confidente dos meus segredos Talvez eu esteja aí Despido de nudez à tua cabeceira Explorando com os olhos A colina e a ladeira Talvez entre ir e vir Fossem precisos dias e noites duplicados Invernos secos e Verões molhados Primaveras sem flores e Outonos em Maio E mesmo assim talvez Não chegasse outra vida Para te conhecer outra vez Foto: s/t - José Lopes ( olhares.aeiou.pt )