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RISO SURDO


É surdo o pastor ao balir do seu rebanho
Manhoso, fugidio, o sobreiro à sua sombra
Renovadas as preces de chuva
Mistério milagre que o Sol assombra
É inconsistente e surdo o noivo às grinaldas
Ou o pombo à águia
Surda de ensurdecer
A papoila a um campo esmeralda
Sou surdo às atoardas
Coloco flores nos canos das espingardas
E rio surdamente
E rio surdamente
É surdo o silêncio da voz de um poeta louco
Que de poeta tem pouco
E ri surdamente a palavra troçada
Ri em surdina na multidão
Em estádio virtual especada
É surdo o meu riso para quem não gosta de mim
É surdo o meu riso
E rio surdamente
Como poeta sou assim

Foto: Ovelha - Paula (olhares.aeiou.pt)

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