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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2009

SEMENTES

Peço licença Mas vou dormir Regar as sementes dos sonhos Cultura em que sou bisonho Diria até desleixado no mando Que dos sonhos nem sonho o comando Seria sonho sonhar o que quero Largar o dormir austero E sonhar, sonhar, sonhar Sem acordar E seriam as sementes mais que sementes De sonhos sonhados entre os dentes Foto: Sementes da vida - Maria Eduarda ( olhares.aeiou.pt )

NOTÍCIAS E PALAVRAS: 3ª Conferência Nacional da Sesta

CAVALOS

Não se é tarde Mas nasce à minha volta um oceano E compõe-se outro ano São músculos e braços e mãos Não sei se me felicitam Se me incitam Se me dão rotundos nãos Sei apenas que sou navegador Que sei o rumo e mantenho o prumo Que não me pára a dor Nem o lume ou o fumo É neste mar velho que velejo Que olho um povo e deposito um beijo Foi deste mar que se esticou uma nação É neste mar que pouso a minha mão E este mar que acalma os cavalos Que tenho no coração Foto: Double Speed - cachapa ( olhares.aeiou.pt )

uma pequena fantasia

Choviam pétalas de rosas A lama era mel A montanha um rebuçado A nuvem um papel Era perfume o vento Arco-íris o batel Era cristalino o mar Leve o meu respirar Algodão doce a espuma Transparente o luar Todos os peixes sereias Todas as casas castelos Com varandas sem ameias A chuva era ouro O Sol um tesouro Não era esforço rir Mas apenas um sentir Viver não era fantasia Era apenas ser alguém Apenas por um dia

TEOREMA

O teu segredo não é mais segredo Mas sim um fruto maduro do medo Sabes que não sou mais que um precipício Um intervalo, um corte na fita de cinema Um actor de fingir no lugar de outro Ou outro no meu O teu apagado teorema Uma peça de museu Esse segredo não é mais segredo Mostrou-o o vento norte Ao pensamento é à morte À luz e à sorte Não sou mais um segredo Uma vaga luz Ou caduceu Sou eu… Foto: Red vs Black - Paulo Abreu ( olhares.aeiou.pt )

CARTA PERFUMADA

Escrevi uma carta em papel perfumado Da cor de um sonho alado Colei o selo com o suor do peito O envelope com as lágrimas de um sonho desfeito Era tardia a mala que embalava a carta E perdeu-se sépia no tempo E de viagens gasta e farta Voltou-se às mãos em contratempo Era gasto o suor e seca as lágrima E voava a carta pelos momentos Era esta a última Carta dos próximos tempos

HISTÓRIAS DE CAMACUPA E OUTRAS PARAGENS DA VIDA (12º Episódio)

Cantamos os sonhos mas nem sempre podemos sonhar. Em breve poderei sonhar e regressar a África. São de lá os fins de tarde que preenchem o meu imaginário. É de lá o cheiro a peixe seco com pirão comido á mão e às escondidas nas traseiras de casa. É de lá a nostalgia que me assalta tantas vezes. São de lá as primeiras quedas de bicicleta. São até de lá as primeiras doenças. Paludismo, vulgo malária, que segundo a minha mão poderia ter deixado os leitores deste texto sem interlocutor. Dizem até que é de lá a cor da pele(!). Foi de lá que veio o sotaque indígena com que os meus tios tanto gozavam em 1975. Foi lá que ficou uma parte das minhas memórias reconstruídas após tantos anos e tantas histórias recontadas. É lá que volto num sonho. Quero que belisquem à chegada. Mas só depois de chorar ( continua ) Fotos: Dreaming / No more WAR... M.Lapin ( olhares.aeiou.pt )

MAIS... NADA

Mais vale ficar calado no instante Completar os cromos de uma vida Não sou frio ou distante Apenas trato a poesia de forma desmedida Sou irmão da distância Das estradas escuras e claras Salto paredes e muros Canto palavras tão raras Ergue-se em mim o edifico das palavras Pedras juntas por argamassa Não sei se fico Ou se aproveito a boleia do dia que passa Sei, isso sim, sei que faço poesia Ritmo as minhas asas Pelas palavras que ergo De palavras mudas e escravas Foto: nada... incessantemente nada - MARIAH ( olhares.aeiou.pt )

NEM BARCOS DE PAPEL

No lago das minhas lágrimas Há-de navegar um barquinho de papel Mensageiro de mim Um barquinho colorido amarelo pastel Nele há-de flutuar a minha cidade E carregar no papel das velas O nome da felicidade Ficarei a vê-lo do cais do passeio Cruzar lento o fundo da rua E parar espantado e molhado Nunca lhe ensinaram aquele caminho Nem o Sol nem as estrelas Nem a lua… Nem como navegar sozinho Nem a navegar à vista ou à bolina Nem como lidar com o vento depois da esquina Foto: Yokohama by night - Raul Cordeiro (olhares.aeiou.pt)

RISO SURDO

É surdo o pastor ao balir do seu rebanho Manhoso, fugidio, o sobreiro à sua sombra Renovadas as preces de chuva Mistério milagre que o Sol assombra É inconsistente e surdo o noivo às grinaldas Ou o pombo à águia Surda de ensurdecer A papoila a um campo esmeralda Sou surdo às atoardas Coloco flores nos canos das espingardas E rio surdamente E rio surdamente É surdo o silêncio da voz de um poeta louco Que de poeta tem pouco E ri surdamente a palavra troçada Ri em surdina na multidão Em estádio virtual especada É surdo o meu riso para quem não gosta de mim É surdo o meu riso E rio surdamente Como poeta sou assim Foto: Ovelha - Paula ( olhares.aeiou.pt )